Quem sou eu

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São Paulo, Brazil
Sempre fui exibida. Fazia ballet, pra ter plateia, redação pra ler na frente e dramalhão pra poder chorar. Dei muitas entrevistas pro Jô e Marilia Gabriela, olhando pro azulejo do banheiro. Cantei no chuveiro, venci todos os concursos de Miss Brasil em frente ao espelho 60 x 1,20 do meu quarto. Na escola me autointitulava “ atriz quebra-galho” da Globo, quando alguma atriz não podia fazer o papel na novela, eu entrava e substituía (tudo imaginário, até os autógrafos). Mas não era popular. Era a de todas as rodas. Me dava bem com as nerds, as gostosas, as chatas e a mais bonita. Sempre exercitei a política da popularidade e boa vizinhança. Hoje sou mãe, esposa, publicitária trabalhando em Marketing, dona de casa que faz tudo menos janta, e continuo metida, adorando aparecer!

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

QUANDO VOCÊ NÃO É MAIS UM PONTO DE REFERÊNCIA, SÓ QUE NÃO...

Durante anos da minha vida, claro, tive meus momentos de ponto de referência: "Fala com a Cris, a "gordinha" do marketing", "Lembra, da Cris, que era bailarina e ficou enorme?..." Pois é..., e de tão bizarro, você até que acaba se acostumando e PIOR, aceitando sua condição de sinalização ambulante. Eu mesma, me tirava sarro, um tanto de vezes: Oi, sou eu, a Criiiiiiiiiis, a gordiiiiiiiiiiiinha!!" Até que a bendita da cirurgia começa a fazer efeito e a passos largos e rápidos, você perde a função GORDA MODE ON. As pessoas começam a ficar perdidas, tanto quanto você, que sofre sem ser referência de nada. Porque você não vira a Cris que emagreceu, você vira a gorda que tirou o ESTÔMAGO! Parece mais cruel ainda!!! Sonhava em ouvir: a Cris magrinha!!! Porque MAGRELA a gente ouve pacas!! Magrela é um nada, sem mérito nenhum, magrela é uma EX GORDA, e só. Você não fez o menor sacrifício pra atingir seus 68 kg! Você não suou, fez dieta, se matou na academia, passou privações, perdeu o humor, ficou louca de fome, quase surtou olhando a alface, entupiu sua geladeira de frutas e legumes. NÃO!!!! Você simplesmente arrancou um pedaço, um grande pedaço do seu corpo e PLUFT, emagreceu!!! E a magia de ser gorda foi embora, a referência foi embora, ficou o vazio, a insana certeza de que você comeu seu próprio estômago com muito cheddar, sem qualquer esforço! Só quem passa pela cirurgia sabe o que estou falando, quantas são as transformações físicas, psicológicas, morais, sociais. É que não sou de dramas, de ficar detalhando sofrimento, prefiro trilhões de vezes um bisturi a uma alface. A referência passa a virar cobrança. "Cris, você emagreceu muito, pare com isso!!". "Menina, seu marido não gosta de carne, não?" OOOOOOOOOOOOI???? Dá vontade de falar: "Ei, comi meu estômago, esqueceu??? Tá na mão de Deus agora!!!", mas me seguro, respiro fundo e desfilo a magreza na minha passarela imaginária. Alguns esquecem que eu fui referência, outros nem conseguem imaginar: "Quê?? Você gorda? Nunca!!" A sensação é de que sempre vai existir um buraco. Metafísico agora, mas um buraco, porque a moça parada ali a direita, agora é só uma moça, sem adjetivos.