Quem sou eu
- Cris Rovini
- São Paulo, Brazil
- Sempre fui exibida. Fazia ballet, pra ter plateia, redação pra ler na frente e dramalhão pra poder chorar. Dei muitas entrevistas pro Jô e Marilia Gabriela, olhando pro azulejo do banheiro. Cantei no chuveiro, venci todos os concursos de Miss Brasil em frente ao espelho 60 x 1,20 do meu quarto. Na escola me autointitulava “ atriz quebra-galho” da Globo, quando alguma atriz não podia fazer o papel na novela, eu entrava e substituía (tudo imaginário, até os autógrafos). Mas não era popular. Era a de todas as rodas. Me dava bem com as nerds, as gostosas, as chatas e a mais bonita. Sempre exercitei a política da popularidade e boa vizinhança. Hoje sou mãe, esposa, publicitária trabalhando em Marketing, dona de casa que faz tudo menos janta, e continuo metida, adorando aparecer!
quinta-feira, 21 de março de 2013
A EX
Não, ela não se esconde mais no meio da multidão, nem tem vergonha de repetir um prato. Não recusa passeios, baladas, nem chás com amigas magras. Não desvia do espelho, não compra roupas na seção de grávidas, não teme ir à praia de biquini. Não, ela não come 2 Big Mc´s, não ataca a geladeira de madrugada, não senta no banco azul do metrô nem veste pantalonas estampadas. Ela não sua frio subindo escadas, não mais reclama das dores nas costas e nem acorda cansada depois de 20 apneias noturnas. Não, ela não recusa pegar o filho no colo, não tem problema em mostrar as pernas, não vê mais assaduras nas dobras, tampouco dispensa maquiagem. Ela não deixa de comprar botas, não tem vergonha de dançar em público, não surta escolhendo o que vai vestir e não foge de fotos. Não, não, não, ela não se acha a mais bonita, não virou outra pessoa, nem está com um corpão de revista. Não, ela não é mais desprezada, não usa mais cintas modeladoras, não se sente diminuída, nem enxerga os preconceituosos. Ela não vacila em provar roupas P, não sofre com dedos inchados, não é medida de cima a baixo, nem gasta mais com sabonetes. Não, ela nunca mais chorou sozinha num cantinho escuro...
Mas hoje, hoje sim o dia é só dela, e ela está de parabéns!
35 kg a menos. Livre de artroses, hérnias de disco, apneias.
Manequim 52 para 42. 104 kg para 69 kg. IMC 35 – Obesidade severa grau 2 para 25 – Normal. Hoje, 21 de março de 2013, 1 anos depois, amo ser Ex!
quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
QUANDO VOCÊ NÃO É MAIS UM PONTO DE REFERÊNCIA, SÓ QUE NÃO...
Durante anos da minha vida, claro, tive meus momentos de ponto de referência:
"Fala com a Cris, a "gordinha" do marketing", "Lembra, da Cris, que era bailarina e ficou enorme?..."
Pois é..., e de tão bizarro, você até que acaba se acostumando e PIOR, aceitando sua condição de sinalização ambulante.
Eu mesma, me tirava sarro, um tanto de vezes: Oi, sou eu, a Criiiiiiiiiis, a gordiiiiiiiiiiiinha!!"
Até que a bendita da cirurgia começa a fazer efeito e a passos largos e rápidos, você perde a função GORDA MODE ON.
As pessoas começam a ficar perdidas, tanto quanto você, que sofre sem ser referência de nada. Porque você não vira a Cris que emagreceu, você vira a gorda que tirou o ESTÔMAGO!
Parece mais cruel ainda!!! Sonhava em ouvir: a Cris magrinha!!! Porque MAGRELA a gente ouve pacas!! Magrela é um nada, sem mérito nenhum, magrela é uma EX GORDA, e só.
Você não fez o menor sacrifício pra atingir seus 68 kg!
Você não suou, fez dieta, se matou na academia, passou privações, perdeu o humor, ficou louca de fome, quase surtou olhando a alface,
entupiu sua geladeira de frutas e legumes. NÃO!!!! Você simplesmente arrancou um pedaço, um grande pedaço do seu corpo e PLUFT, emagreceu!!!
E a magia de ser gorda foi embora, a referência foi embora, ficou o vazio, a insana certeza de que você comeu seu próprio estômago com muito cheddar, sem qualquer esforço!
Só quem passa pela cirurgia sabe o que estou falando, quantas são as transformações físicas, psicológicas, morais, sociais.
É que não sou de dramas, de ficar detalhando sofrimento, prefiro trilhões de vezes um bisturi a uma alface.
A referência passa a virar cobrança. "Cris, você emagreceu muito, pare com isso!!". "Menina, seu marido não gosta de carne, não?"
OOOOOOOOOOOOI????
Dá vontade de falar: "Ei, comi meu estômago, esqueceu??? Tá na mão de Deus agora!!!", mas me seguro, respiro fundo e desfilo a magreza na minha passarela imaginária.
Alguns esquecem que eu fui referência, outros nem conseguem imaginar: "Quê?? Você gorda? Nunca!!"
A sensação é de que sempre vai existir um buraco. Metafísico agora, mas um buraco, porque a moça parada ali a direita, agora é só uma moça, sem adjetivos.
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