ASSUMINDO A GORDICE

Demorei um tempo a me perceber “gorda” e assumir isso. Graças a um bom humor e uma veia cômica, “natos”, sempre encarei bem as piadinhas e o preconceito. Se o bullying fosse mais famoso naquela época, quem sabe teria até feito uma graninha com o bando de babacas que me infernizou a vida nesses últimos 10 anos. “Você tem um rosto tão lindo! Pena que é gordinha!” “Quer sentar?? (no metrô acham que sou grávida)” “Nossa! O que aconteceu com vc??” “Como vc deixou chegar nesse ponto?” “Mas vc era bailarina!” Pra arrematar a história nesses últimos 10 anos: perdi um bom emprego, a melhor amiga, um super avô, fui pra Europa "comer, rezar e amar", caí na gandaia, sofri assédio moral durante 2 anos, conheci o Diogo, casei, troquei muito de emprego até me acertar e amar o atual, tive o Lucas, conheci o FB e revi amigos queridos e nesse meio tempo, comi, comi, comiiiiiiiiiiiiiiii, absurda e felizmente sem qualquer culpa no cartório. Até ter o Lucas, eu acho que me permiti ter ficado desse jeito. O pensamento era: "ah, depois da gravidez eu pego firme numa academia, ou então filho emagrece..." Arrã!!!! Mas foram anos muito felizes, não me arrepende de nada, foram muitas viagens, passeios, noites gastronômicas, descoberta de paladares, festas, banquetes, abusos na madrugada, verdadeiros festivais e orgias guturais. E kilos, muitos kilos. Crises com o guarda-roupas, ataques pré-festas..., no casamento da minha irmã, eu madrinha já era um boi. Boicotava eventos com ex colegas de escola porque eles iam tomar um susto em me ver daquele jeito, deixava o Diogo maluco com meus pitis, achava normal me darem lugar no metrô, me escondia nas fotos até parar de tirá-las e deixei de registrar felizes momentos com o meu filho. Comecei a comprar vestidos e pantalonas estampadas pra disfarçar as banhas, parei de usar salto, reparei que suava mais que o normal, as dores aumentaram, as assaduras apareceram, o cansaço, a falta de ânimo, a pouca vontade de sexo, a falta de condicionamento, a gravidez de risco, a curva indicando a obesidade, o olhar das pessoas recriminando, a vergonha de comer em público, o sono, muitas quedas bobas, na rua e em casa, a auto-estima indo embora, a vontade de não me arrumar, fazer unha, cabelo, sobrancelha..., o cabelão sempre preso num coque, depilação era um estado de superação, o desinteresse por sol e piscina, o descuido total. E com tudo isso, as doenças: uma hérnia de disco na lombar, uma queda com ruptura de rótula, gordura no fígado e um IMC 37 apontando obesidade severa grau II. Era a consequência de toda uma vida gulosa, batendo 101.7kg na balança. Amanhã vc vai saber como foi a HORA DO BASTA de ser gorda!!! Não perca!